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Entre Brasil e Palestina: Maj canta sua história em “NUSS NUSS نص نص”

Redação CM

Redação CM

10 de setembro de 2024

Crédito: Lara Pazini/Flora Próspero

“Eu sou a fome do ocidente com a sede do oriente, mas eu não sou daqui e nem sou de lá. Eu sou esse vazio e esse todo”. Essa é a frase do manifesto, do grito, da poesia de “A Cabra”, que abriu as portas do atual trabalho musical da artista palestino-brasileira Maj. Intitulado ““NUSS NUSS نص نص”, o projeto – que se desenrola ao longo de sete faixas –, chega aos seus últimos três lançamentos, nesta segunda-feira (9), disponível em todos os aplicativos de música. 

“NUSS NUSS نص نص” é mais do que um projeto musical; trata-se de um testemunho da identidade multifacetada de Maj, entrelaçando suas raízes brasileiras e palestinas em uma obra que celebra a resistência e a vida, suas origens, sua identidade e suas reflexões sobre o mundo. Já o nome do projeto faz referência ao termo usado pelos palestinos para descrever a artista, quando ela visitou o país. 

“Em árabe, significa meio a meio, metade-metade, faz referência a essa questão de eu ser palestina e brasileira. Além de representar esse projeto também, que é meio samba, meio rap, meio rock, meio poesia. Cada música tem uma identidade visual única, tem gêneros diferentes e trazem as metades do que sou”, explica a cantora, compositora e poeta, que começou a mostrar sua arte pelas ruas de São Paulo, como MC de batalhas de rap. “Essa música ‘A Cabra’ veio como uma apresentação minha ao mundo. Mostrando quem eu sou, minhas dores, força e fé”, completa.

O projeto nasceu em 2020, quando a artista retornou da Palestina, e conta com músicos como Thomas Harres, na bateria; Donatinho, nas teclas, músicos da Orquestra Brasileira de Música Jamaicana, nos metais, entre outros. “Com o início da pandemia, todos os músicos participantes fizeram suas gravações de onde estavam enclausurados, de diferentes cidades, naquele momento terrível de isolamento e medo”, relembra Maj. 

Profundidade e diversidade

Bem como “A Cabra” – lançada em agosto de 2023 –, outros singles do projeto “NUSS NUSS نص نص” já estão disponíveis. São eles: Avisa Allah, que significa “Avisa Deus”, com a participação da cantora palestina síria Oula Sagheer e do músico palestino Yousef Saif; a canção “Moça, larga a louça”, um rap samba com feat da MC de rap Gabi Niaray, com clipe gravado no Morro da Babilônia, no Rio de Janeiro, trazendo a conexão entre as dores das mulheres brasileiras de periferia da mulher preta, com as dores das mulheres palestinas e “Insônia”, uma música que fala sobre as dores do amor romântico inventado, com clipe gravado em uma praia de Ubatuba, com um corpo de baile de dançarinos de São Paulo. 

As três novas faixas, que completam este ciclo, refletem a profundidade e a diversidade das experiências de Maj. “Equilíbrio Estranho” explora o amor real, sem romantismo idealizado, onde as relações são vistas como uma dança equilibrada entre duas pessoas que se entendem e fazem bem uma à outra. “Monsters” aborda a maternidade no contexto do mundo moderno pós-colonial, tocando em questões como a venda de congelamento de óvulos para mulheres que se aproximam do limite biológico para ter filhos. Por fim, “Ainda Pulsa”, que conta com a participação da irmã de Maj, Amnah Asad, e do produtor Guri Assis, encerra o projeto com uma batida ancestral, fazendo um chamado à vida e à resistência, seja após a pandemia ou o genocídio em Gaza. “Resistência é celebrar”, diz Maj, resumindo a mensagem da faixa.

Para a criação sonora do projeto, Maj bebeu de diversas fontes musicais e inspirações. “Minhas principais referências como cantora na vida, e que de certa forma influenciam esse projeto, são Luedji Luna, Maria Rita e Ludmila. Mas as músicas de rap, poesia e denúncia têm influências do Criolo, do BaianaSystem, e até um quê de Pink Floyd e Aloe Blacc. É uma grande mistura”, salienta a artista.

Impacto de compartilhar

Com a conclusão do projeto, Maj reflete sobre o processo, a recepção do público e enfatiza a importância de documentar memórias e sentimentos, tanto para a construção cultural quanto para a resistência e o futuro. “Não existe sensação melhor do que entregar um trabalho que vozes dentro e fora da nossa cabeça sopraram para existir. Eu às vezes penso: imagina quanto sofrimento mental eu não estaria se ainda não tivesse colocado isso para fora, ‘parido esses bebês no mundo’. Ainda bem que tive coragem e resiliência para fazer esse projeto acontecer. Demorou cerca de cinco anos, considerando todo o processo”, finaliza.

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