Com intensidade e vulnerabilidade, Isabella Flint surge como uma das vozes que buscam marcar a nova cena do rock autoral e estampa a nova capa digital da Conexão Magazine. Suas músicas transitam entre o peso de emoções profundas e a delicadeza de quem busca ressignificar memórias dolorosas, encontrando na arte uma forma de libertação. O recém-lançado single “Quarta” é o primeiro capítulo do EP Dores, um projeto que promete ecoar experiências universais de trauma, cura e resistência.
Em entrevista para à Conexão Magazine, Isabella compartilha o processo criativo de suas composições, fala sobre a importância de suas referências musicais e reflete sobre o lugar da mulher no rock nacional. Entre lembranças pessoais e projeções para o futuro, a artista reafirma seu propósito: transformar feridas em canções capazes de conectar e fortalecer quem as escuta. Confira:
Você lançou “Quarta” recentemente, música que fará parte de seu primeiro EP Dores. Conte um pouco sobre a história dessa canção, como surgiu a inspiração para o som.
Quarta é sobre a dor de viver um trauma que nenhum dos envolvidos fez questão de validar. É a história de quem se curou só, daquilo que mais feriu – porque duvidaram da sua dor. Eu acordei um dia e pensei em escrever minha primeira letra triste. Fiz quatro versões dela para chegar na versão desejada. Ela foi pensada para que tivesse um andamento constante, sem muitas dinâmicas, mas com uma voz carregada de dor, como quem já desistiu de tudo e só está levando a vida.
Suas canções falam de emoções intensas. Como foi o processo de transformar essas vivências em canções?
Gosto de esperar as emoções passarem para terminar de escrever sobre elas. Embora seja mais demorado, sinto que é mais verdadeiro. Meu bloco de notas é cheio!! Cada situação que passei foi desabafada ali, depois relida e por último volto de cabeça fria para organizar essas sensações em música. É como terapia haha. Você sente tudo que precisa e depois se organiza internamente.
Você acredita que existe algum limite na hora de expor sua intimidade através da arte?
Acredito que sim, ainda estou entendendo até onde eu posso ir, é um amadurecimento. Ser artista já é se expor mais do que o normal, mas gosto de criar artifícios, metáforas e histórias que podem me proteger de tudo que estou retratando e não me sentir tão exposta. Tudo tem seu momento. Aos poucos podemos falar mais disso ou daquilo, sem nos arrepender.
Você cita Pitty, Paramore e Demi Lovato como influências. Em quais aspectos da sua sonoridade essas referências aparecem mais claramente?
São inspirações muito fortes de uma geração inteira da minha idade! De tudo que cresci ouvindo delas, tento ter 1% da intensidade vocal e da força das letras que essas vocalistas carregam com suas histórias de vida – meu projeto tem me permitido contar as minhas. Um sonho poder fazer letras tão atuais, como em um álbum que já tem 20 anos da Pitty.

O que diferencia a fase atual da sua carreira, marcada pelo rock autoral, das primeiras composições que você compartilhou na internet em 2019? Você sempre esteve inserida no rock?
Desde o começo buscava por uma sonoridade que fosse mais a minha cara e acho que isso é o que leva mais tempo. Amadureci bastante na música e testei – e ainda testo – o que eu realmente curto escutar vs. tocar. São mundos bem diferentes, então acho que estou encontrando o equilíbrio do que combina com minha voz, quais temas quero compor e qual peso quero que tenham. Tenho curtido muito o processo!
Qual é a importância desse estilo pra você e na sua vida?
O rock entrou na minha vida mais na adolescência e voltou a ser bem presente somente depois de estudar música. Cresci ouvindo muito R&B e MPB, mas sentia falta do peso do rock, já que sou uma pessoa bem enérgica. Ele me trouxe força e a possibilidade de explorar tudo que tenho pra falar pro mundo.
O rock nacional tem uma tradição de vozes femininas potentes. Como você enxerga seu lugar nessa cena hoje?
O vocal é o elemento que mais me chama atenção em uma música. Sempre me vi fazendo letras intensas e quero ser reconhecida por isso, e a voz não tem como ficar para trás, é parte dessa mensagem, ainda mais no caso do rock. Ele pede atitude e nós mulheres sempre temos que nos impor muito mais para ganharmos respeito, infelizmente. Nossa voz é nossa forma de ganhar espaço.
Ao pensar na sua trajetória até aqui, qual foi o momento mais marcante, aquele que confirmou para você que estava no caminho certo?
Comecei a lançar músicas na pandemia e de lá para cá recebo mensagens e apoio de pessoas de outros estados que nunca me viram pessoalmente ou sequer pisaram em um show meu. Elas ouvem as músicas, compram merchandise, me escrevem sobre o que sentem quando ouvem as faixas. Isso dá força para qualquer artista continuar. Ainda não nos encontramos, mas essa foi a confirmação que eu precisava.

O nome do seu futuro EP é Dores, mas a proposta é de ressignificação. De que maneira você espera que o público se identifique ou se cure através dele?
Todas as composições falam de dores super comuns – traição, trauma, arrependimento… – mas nem todo mundo está aberto a falar para outra pessoa o que verdadeiramente sente. Faço músicas para que os temas fiquem o mais leves possível e mais fáceis de serem falados. Acredito que, quanto mais você põe pra fora, menos você guarda e mais fácil é se curar! Às vezes, uma música pode trazer as palavras que nem nós sabíamos que precisávamos ouvir e gritar bem alto. Se a música pode ser o canal, vou continuar.
O que o público que está te conhecendo agora pode aguardar do seu trabalho e mensagem na cena autoral?
Estou muito animada, a caminhada autoral vem com muitos desafios, mas peguei o gosto pela composição e esse EP está me abrindo portas para outros projetos. Produzir algo do zero com pessoas incríveis que já são da cena, inclusive, tem me ajudado muito – agradecimento especial aos meus produtores @vinirdrigues @vibedodani. Meu foco é transformar memórias negativas em músicas energizantes, trazer essa liberdade para as pessoas virarem a página, com música. A arte tem esse poder e esse é meu objetivo na cena.




































