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OUTROEU fala sobre reencontro às raízes no álbum “QUARTO”, música com Elba Ramalho e retorno ao voz e violão

Beatriz Arasanoli

Beatriz Arasanoli

27 de outubro de 2025

OUTROEU / Créditos: Gilberto Dutra

Quando falamos sobre a nova geração da música popular brasileira, é impossível não lembrar de OUTROEU. Ao longo dos anos, Guto Oliveira e Mike Túlio transitaram entre o folk e o pop, mas sempre preservando uma raiz afetiva que os conecta à música brasileira tradicional, aquela que carrega memória, casa, chão.

Essa essência ganha força em “QUARTO“, o novo álbum de estúdio da dupla, que marca um retorno às suas próprias origens do projeto. Com raízes fincadas em Nova Iguaçu, eles agora se permitem visitar sonoridades do Nordeste, incorporando ainda o forró, e reforçando o triângulo marcado e a sanfona, como quem revisita lembranças que, mesmo distantes, sempre fizeram parte do seu repertório.

O título carrega dupla simbologia: além de ser o quarto disco do duo, o álbum convida os fãs a entrarem nesse quarto íntimo, onde voz, violão e histórias se encontram. São dez faixas autorais que conduzem o ouvinte a uma viagem afetiva, um retorno ao que impulsionou os dois a se cruzarem e começarem a criar músicas juntos lá no início. É como abrir uma porta e reencontrar uma versão mais pura do OUTROEU, um presente aos fãs.

OUTROEU lança “QUARTO” / Créditos: Gilberto Dutra

É um disco que caminha pela calmaria, mesmo quando o mundo lá fora é sempre cheio de barulho e pressa. A dupla produziu o álbum inteiramente em seu home studio, resgatando composições guardadas ao longo dos últimos anos, canções que, por algum motivo, ficaram de fora de projetos anteriores, mas que agora encontram seu lugar. O resultado é um trabalho autêntico, íntimo e confessionário, que atravessa temas como amor, vida e autoconhecimento, tão presentes nos projetos do duo.

Entre os destaques, está “Viver de Carinho”, já conhecida pelo público e assinada pelo duo ao lado de Flavio Senna, responsável também pela engenharia de áudio, captação e mixagem do álbum. Outra faixa marcante é “Um Doce e Uma Flor”, parceria com Elba Ramalho, que celebra a musicalidade nordestina com afeto e respeito. Já a releitura de “À Primeira Vista”, sucesso consagrado de Chico César, chega como homenagem e reconhecimento às referências que sustentam a caminhada.

Sobre o tom mais intimista das composições, Mike compartilha que esse disco é um retorno ao essencial, ao que existe antes de qualquer estrutura, estratégia ou produção grandiosa: “Ele é um pouco mais intimista, por mais que ainda tenha coisa por vir, tem uma surpresinha depois do lançamento dele. Mas no todo ele é um álbum mais intimista, mais essencial, é mais a essência do que é a gente. Despido de um monte de arranjo, de produtor, de toda a estrutura, de tudo. A gente teve esse ápice de ter muita estrutra, de chegar e fazer os álbuns dois e três, O “Outro é Você” foi uma super estrutura, a gente gravou em Campinas. Mas o ponto é que esse álbum é sobre estar perto das pessoas tocando, a gente queria resetar e falar isso aqui é o OUTROEU. “

A decisão de fazer esse disco dessa forma surgiu justamente no momento em que a dupla deixava uma gravadora. Era um ponto de virada, quase um convite para olhar para dentro. Eles perceberam que já carregavam um repertório de músicas feitas ao longo dos anos, guardadas como quem guarda memórias importantes. E foi aí que o caminho ficou claro: resgatar o que já existia. “A gente tem que partir disso e não pode deixar isso de lado, porque vem um monte de gente querendo que você seja todos os ritmos que estão bombando no momento quando você ta na indústria. Esse momento foi muito sobre buscar o que é a gente, foi uma coisa muito interna.” revelam.

A sonoridade do álbum reflete isso profundamente, especialmente na presença marcante de elementos do forró e das tradições musicais do Nordeste, o que já era de alguma forma parte da história afetiva de Mike. “Eu sou extremamente apaixonado por forró desde criancinha, sempre gostei muito das músicas, das composições, tem uma riqueza de aprendizado que a gente seguiu estudando, ouvindo as coisas. Ficando mais velho, você vai amadurecendo e vai ouvindo as vezes uma outra coisa, que antes não tinha conhecimento. Então eu sinto que o forró veio pra mim junto com a composição. Eu sinto que olho pras minhas composições e já são um baião. A “Ai de Mim” do primeiro álbum ela é um baião. Então sempre foi parte do que a gente considerou como uma música folclórica. O que seria o folk no Brasil? Acho que é por aí na música brasileira que vem muito com a canção.

E foi essa conexão que despertou uma ideia que foi quase inevitável: a participação de Elba Ramalho. “Eu tive a sacada da gente chamar a Elba como feat para uma das músicas, inclusive já tinha sanfona nos nossos shows, e acabou se tornando uma coisa que sempre era, e era pra ser. Ela topou e acabamos fazendo e combinando com tudo.” conta.

OUTROEU e Elba Ramalho no estúdio / Créditos: Gilberto Dutra

A parceria com Elba Ramalho também carrega uma história afetiva que atravessa anos, quase como um fio que esperou o tempo certo para ser puxado. Mike lembra quando tudo começou, ainda em 2017, com a faixa “Coisa de Casa” (2017): “A gente fez “Coisa de Casa” e acabei conhecendo o Luã, filho dela, ele curtiu a música e a gente ficou muito próximo e ele disse que ia gravar. Ele tinha acabado de chegar da faculdade, da Berkeley onde fez produção musical e disse que ia produzir essa música, fui pra casa dele, a Elba chegou e gostou do trecho “Ave Maria”. Falou da música, da letra. Passou todo esse tempo e quando veio essa canção e essa ideia eu pedi todas as desculpas pro Luã, eu odeio pedir coisas. Falei “teria como você mostrar uma música pra ela? Ela topou e chamou a gente para ir gravar a música. A gente foi gravar e quando chegamos já estava gravada, e a Elba canta muito.

Essa sensação de reencontro também aparece no processo de composição. O álbum mistura músicas novas com canções guardadas que sobreviveram ao tempo porque continuam dizendo algo importante.“Vai acontecendo com o tempo, na medida que a gente vai fazendo as músicas e guardando algumas das antigas. Tem músicas que a gente sente que tem que lançar, passam os anos e a gente continua ouvindo. Independente do que está alinhado com a nossa cabeça naquele momento, acho que cada trabalho tem que ter uma paleta de músicas que combine. Esse olhar de parecer uma música antiga, uma música de agora, é porque realmente a gente fez a um tempo e mostra o que a gente era, e porque a gente quis trazer uma essência do primeiro álbum. Uma sensação do que a gente fazia no começo.”

E é justamente nessa volta ao essencial que o OUTROEU se reencontra no voz e violão, o formato que deu origem a tudo. “A gente tem muita vontade de fazer banda, mas agora nesse resetar todo, é o momento que a gente decidiu colocar essas músicas e dar dois passos para trás para ser tudo mais personalizado, mais próprio e forte da gente e poder dar esse passo de fazer mais shows de banda. A banda agora vai desabrochar de um jeito diferente, do jeito certo que a OUTROEU deveria desabrochar.”

Com “QUARTO”, OUTROEU reafirma seu lugar entre os nomes que marcam a MPB contemporânea, consolidando um público fiel que os acompanha há uma década e convidando quem chega agora a entrar, sentar, respirar e escutar.

Ouça o álbum “QUARTO” aqui embaixo:

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