Cineasta firmou parceria com o LABRFF, principal festival sobre filmes brasileiros no exterior, atuando na cobertura do evento. Para ela, adaptabilidade do circuito não-comercial é um caminho seguro para quem quer se destacar no audiovisual em constante transformação
Radicada há dez anos em Los Angeles (EUA), a cineasta brasileira Fernanda Schein experimenta uma nova fase na carreira e, por meio de sua produtora, se engaja no incentivo ao cinema independente como uma alternativa às mudanças drásticas que impactaram a indústria audiovisual nos últimos anos.
Com uma trajetória ascendente, ela participou da pós-produção de bem-sucedidas séries do gênero true crime — como O Caso dos Irmãos Menéndez e Assassinato nos EUA: Gabby Petito, disponíveis na Netflix. Premiada por vários curtas-metragens, também tem no currículo Caviar Star, thriller psicológico sobre a indústria artística protagonizado por Marco Pigossi e Alice Marcone.
Agora, Fernanda vislumbra um novo horizonte e investe em parcerias com festivais, como o Los Angeles Brazilian Film Festival (LABRFF), o mais importante evento sobre cinema brasileiro realizado no exterior.
“Preparei vídeos com o anúncio dos selecionados em cada categoria, vinculados nas redes sociais. Além disso, fiz a cobertura in loco da abertura e do encerramento. Usando o meu equipamento, eu ficava nos bastidores. Recebia as imagens captadas por outro profissional e fazia a montagem, para que os registros fossem exibidos no telão”, detalha a cineasta, que também assinou o vídeo-homenagem ao ator Reginaldo Faria, produzido a partir do acervo fornecido pela família.
Outro trabalho do qual ela se orgulha é o trailer produzido para o Hollywood Park Film Festival. Primeiro, Fernanda captou imagens da rede de cinemas que sediou o evento. Na pós-produção, personagens de filmes clássicos foram inseridos naquele ambiente, como parte da proposta de conectar passado, presente e futuro da sétima arte. O resultado foi exibido em mais de 60 salas da Cinépolis, com uma repercussão bastante positiva.
Indústria que se transforma
A transformação da indústria audiovisual se tornou o ponto de partida para uma reflexão sobre prioridades e objetivos profissionais. “Quero que o apoio ao cinema independente faça parte da história que estou construindo. Pensar na Fernanda que chegou em Los Angeles há 10 anos é exatamente o motivo pelo qual eu tomei essa decisão. Em 2015, eu tinha uma ideia muito diferente sobre a indústria americana, que mudou muito na última década. O trabalho dos meus sonhos naquela época basicamente não existe mais nos dias de hoje”, constata.
A cineasta elege alguns fatores que provocaram essas movimentações. Um deles é a produção de séries com um número menor de episódios, sem que haja um intervalo padrão entre o término de uma temporada e o início da seguinte. Impulsionada pela explosão dos serviços de streaming, essa nova estratégia fez com que alguns cargos intermediários de pós-produção fossem extintos. Além disso, ela destaca os impactos negativos da greve dos roteiristas, realizada em 2023.
Para Fernanda, esse é um momento em que a produção independente ganha um novo fôlego, em contraponto à saturação de conteúdo. O medo de investir em ideias originais faz com que a aposta em remakes seja cada vez mais frequente, além da sobrevida à algumas franquias — várias delas já atingiram a marca de sete filmes, por exemplo. São decisões tomadas para fisgar uma parcela da audiência que já está consolidada, mas, por outro lado, é importante que haja abertura para a experimentação.
“Essa ‘crise’ da indústria, ao mesmo tempo em que sinaliza a necessidade de reinvenção, pode repetir um movimento que aconteceu nos anos 1970. Hoje considerados grandes diretores, Steven Spielberg, Martin Scorsese e George Lucas começaram no circuito independente, mas deram uma guinada em suas trajetórias quando consolidaram o formato do blockbuster, termo utilizado para se referir ao filme arrasa-quarteirão”.
Caminho seguro
Seu envolvimento com produções não-comerciais vai além do patrocínio. No último trimestre, ela produziu trailers para três filmes, com destaque para Cookbook for Southern Housewives, em que também atua como editora de finalização. Distribuído pela Archstone, o longa ainda não tem título oficial em português e conta a história de uma mulher que, descontente com seu casamento, acaba redescobrindo o amor ao lado de um novo homem, sem saber que ele é um mafioso. Reconhecida por sua habilidade culinária, ela entra para os negócios do marido, formando a máfia do pão de milho, em referência à receita que conquistou toda a quadrilha.
“Sinto que essa adaptabilidade do cinema independente talvez seja um dos caminhos mais seguros para quem almeja a construção de carreira no cenário atual. Ficar dependendo dos estúdios ou dos streamings para tirar os projetos do papel está muito difícil, porque nem eles têm uma linha de trabalho claramente definida, ainda mais depois da greve. O momento é de reestruturação; todos ainda estão tentando encontrar formas novas para fazer o seu trabalho”, conclui.
Fernanda Schein nas redes:




































