Quem acompanha Vítor Rêgo pelas redes sociais pode até se deparar com uma rotina aparentemente intimista em dias de estúdio em Los Angeles. Mas por trás das cenas discretas está um produtor brasileiro que tem alcançado grandes conexões no cenário musical global. É ele quem assina a produção da faixa “Type Dangerous – Brazil Funk Remix”, da cantora estadunidense Mariah Carey e agora estampa a nova capa digital da Conexão Magazine.
Nascido no Rio de Janeiro, Vítor é um artista multifacetado: além de produtor musical, é cantor, compositor e fundador da gravadora Coliseu Records (2021), sediada no Rio de Janeiro, que tem a missão de apoiar e impulsionar talentos nacionais. Sua formação em Produção e Engenharia Musical pela prestigiada Berklee College of Music, em Boston, não apenas lhe deu uma base técnica sólida e renomada, mas o aproximou de grandes nomes da música internacional, participando de eventos com artistas como Charlie Puth e H.E.R.
A relação de Vítor com a música começou cedo, influenciado pelos pais. Aos quatro anos, já tocava bateria; aos nove, violão; e aos onze, viveu a primeira experiência na Berklee, durante um programa de verão, que confirmou o seu desejo de seguir carreira na música. Aos 16, produziu sua primeira faixa e descobriu que transformar sentimentos em sons era o caminho que queria trilhar. Desde então, lançou singles autorais como “Margarida” (2019), “O Que Você Quer de Mim?” (2020), “Seu Olhar” (2021), “Meia Noite” (2021) e “Jantar Para Dois” (2024), que refletem sua identidade sonora marcada por influências do rap, R&B, samba e MPB.
Atualmente, Vítor comemora mais um marco na carreira: o lançamento do “Type Dangerous – Brazil Funk Remix”, versão da faixa de Mariah Carey presente no EP “Type Dangerous – The Remixes”, lançado em 11 de julho e que conta com a participação da cantora brasileira Luísa Sonza. O remix traz uma fusão potente entre o funk brasileiro e o pop internacional.
Ouça a faixa:
Nesta entrevista exclusiva, conversamos sobre seu processo criativo, a experiência de gerir uma produtora do Rio direto de Los Angeles, recepção da colaboração com Mariah Carey e Luísa Sonza, e os próximos passos.
Confira na íntegra a seguir:
A versão “Brazil Funk Remix” tem uma sonoridade exclusiva, e única como o jeitinho brasileiro é. Como foi o processo criativo para transformar a faixa pop e R&B em um remix brasileiro sem perder a essência da original?
Foi um desafio muito grande. Antes mesmo de eu sentar para começar a produzir eu fiquei horas pensando qual caminho eu poderia seguir. O BPM da música original estava muito distante do que um funk seria, mas ao mesmo tempo se fossemos fazer no padrão que os funks normalmente são, a música ficaria extremamente corrida e acelerada. Então já comecei pensando em como transformar o sample que começa a música em funk. Como ele é a fundação da música original, queria mantê-lo, mas sem perder a inteligibilidade. Foi quando me veio a ideia de não mudar o andamento do sample, mas sim rearranjar a música inteira para que o sample mantivesse a mesma velocidade mas não se encaixasse mais como semicolcheias, e sim tercinas. A partir daí eu descobri o BPM que ficaria e construí a música. Depois disso ficou fácil, o próprio sample já me deu o caminho.
Como tem sido a recepção dos fãs brasileiros da Mariah Carey ao remix com a Luísa Sonza e o funk? Algum comentário te marcou?
Eu acompanhei muito o que os fãs da Luísa e os fãs brasileiros da Mariah estavam dizendo após o lançamento. Não tenho nenhum comentário específico em mente agora, mas fiquei muito feliz em ver como todos estavam gostando! Alguns fã-clubes das duas artistas vieram me mandar mensagem parabenizando pela faixa e dizendo que estavam muito felizes com esse feat. Recebi muitas mensagens de colegas de profissão também, alguns muito grandes, isso me deixou contente.
Produzir fora do Brasil traz novas oportunidades, e desafios. Como é viver e trabalhar com a música em Los Angeles e comandar a sua própria produtora Coliseu Records nesse cenário internacional?
É um desafio muito grande, mas tenho os melhores ao meu lado. Como eu não estou fisicamente no estúdio, quem comanda as sessões é o Renan Ricio, e quem me ajuda com o lado operacional é o V.Trex (Vitor de Mello). Seria impossível manter a Coliseu sem eles. Isso me dá mais liberdade para focar em criar novas conexões aqui em Los Angeles e expandir a empresa de forma internacional. Eu fico encarregado de conseguir os “briefs” e os “placements” para nós e faço toda a parte de produção executiva (o último par de ouvidos antes de finalizarmos a música é o meu). O trabalho remoto atrapalha um pouco na hora de criar, mas acho que já nos acostumamos. Eu moro fora do Brasil há 4 anos e alteramos um pouco os horários que trabalhamos para nos adaptar aos fusos horários. Isso também me possibilita estar com eles em horários não muito usuais aqui em LA, e eu consigo focar em trabalhos individuais em outras horas.
Você acha que a presença de artistas e produtores brasileiros em colaborações globais tem se tornado ainda mais comum? O que falta para o Brasil deixar de ser um “convidado especial” e virar parte da indústria musical global?
Eu acho que cada vez mais vai se tornar algo comum, assim como foi com os países latinos há alguns anos e com o mercado asiático atualmente. A indústria musical nos Estados Unidos ainda é a que gera mais receita, mas temos visto o crescimento absurdo da indústria em outros países, e essa descentralização faz com que mais colaborações internacionais ocorram. O Brasil tem um mercado que se sustenta sozinho, com gêneros que são quase 100% consumidos apenas dentro do país. Isso faz com que muitos artistas não queiram e nem precisem exportar suas músicas. Mas dos artistas que buscam esse reconhecimento internacional, eu sinto que já estamos num momento que não somos mais convidados especiais. Temos artistas como Alok, Anitta, Ludmilla, a própria Luisa Sonza e produtores como Papatinho que mostram o quanto o mercado atual está olhando para o Brasil como uma potência já. Agora é questão de tempo até ser algo super normal.
O remix com Luísa Sonza mostra o potencial do funk brasileiro em grandes lançamentos. Você acredita que o funk pode se consolidar como um gênero global nos próximos anos?
O funk já é uma realidade. Já nem dá mais pra contar quantos artistas de renome internacional já lançaram funk desde o meio do ano passado. Estamos vivenciando o momento em que o mercado inteiro vai querer fazer funk. Acredito que assim como foi com o Reggaeton, o funk vai ficar em alta por alguns anos, até aparecer a próxima “novidade”, mas isso é comum na indústria: tivemos o reggaeton, depois o K-Pop, Afrobeat e agora o Funk.
Depois desse lançamento com a Mariah Carey, o que podemos esperar a seguir?
Temos muitos projetos rolando dentro e fora do Brasil! Esse ano ainda teremos alguns álbuns sendo lançados pela Coliseu Records e participações de peso nos nossos projetos. Além disso, podemos esperar ver nossos nomes em muitos projetos de artistas nacionais e internacionais dentro dos próximos meses. A conexão do Brasil com o mundo ta sendo feita de forma exemplar e a Mariah Carey com a Luisa Sonza foi apenas o início.
Vítor representa os novos artistas da música brasileira, trazendo um olhar sensível, técnica refinada e uma escuta atenta às raízes do nosso país, se consolidando como nome promissor da nova geração de produtores musicais. Seu trabalho vem atravessando fronteiras sonoras e reafirma o talento e a criatividade que o Brasil tem a oferecer ao mundo.




































