Os aplicativos de namoro realmente criaram cardápios de futuros possíveis parceiros?
O medo de ficar sozinho, aquela carência que aparece no fim da tarde de um domingo, a preguiça de sair todo fim de semana e só querer ficar em casa curtindo a vida romântica, esses são os principais motivos para buscar o seu par. Mas apesar da vontade de ter um parceiro ser grande, ainda assim há o medo do comprometimento dos jovens, que inventaram a categoria “ficante premium”.
“Conheço uma pá de pessoas nesta situação, com “ficantes sérios”, que são pessoas com quem você praticamente namora, mas não namora. Você namora, mas diz que não namora. Faz coisas de namorado, mas não namora. É sério, mas não é um namoro. E isso acontece graças a um fenômeno que eu chamo de O Paradoxo da Oferta Infinita. Por que trinta anos atrás os relacionamentos duravam mais?”, questiona o escritor Léo Luz, autor da obra “Cartas para Anna”, o livro que reúne cartas e bilhetes para a sua ex-namorada.
Léo afirma que a resposta para a pergunta feita acima é bem simples, ele dá um exemplo: Você adora sorvete de creme, é o seu favorito. Mas onde você tem mais chances de se manter fiel ao sorvete de creme, na sorveteria do Zé, que tem oito sabores, ou na Marvelous Super New York Ice Cream, que tem trezentos e dezoito sabores? A solução desse questionamento é simples: a internet é a sorveteria chique dos relacionamentos.
“Trinta anos atrás, se você fosse muito exigente e não quisesse namorar, você teria que esperar o próximo baile, festa, aula na faculdade ou aniversário de alguém para conhecer o próximo pretendente. Hoje em dia, pode entrar no Tinder e marcar meia dúzia de dates”, explica.
Segundo Léo, o jovem não quer correr o risco de começar a namorar hoje e amanhã encontrar a pessoa ideal, ele só não sabe, ou finge que não sabe, que a pessoa ideal não existe. Mas ele não perde as esperanças e não quer fechar portas.
“O problema dessa atitude, além do óbvio, que é a impossibilidade da existência da pessoa perfeita, é que isso vira uma espécie de padrão. Um padrão de pessoas que nem sabem mais porque não querem se envolver, não querem um “rótulo”. Pessoas que agem como se namorados ou namoradas fossem, mas não assumem o relacionamento. E acabam magoando pessoas, fazendo o outro se sentir insuficiente ou incapaz, não por não ter uma relação com aquela pessoa, mas pelo fato de a pessoa simplesmente não querer assumir o simbolismo de um relacionamento”, afirma o autor.
Léo acredita que às vezes o medo de algo faz a gente preferir que mintam para nós do que encarar o medo, assim é com o namoro, as pessoas sentem medo da ideia de compromisso e do rótulo que traz junto com ele, por isso há a ideia de “ficante premium”, ele faz tudo que um namorado ou namorada faria, mas sem ter esse fardo para carregar.