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“Por Minha Causa”: documentário de Jona Poeta aborda traumas e reconexão

Redação CM

Redação CM

23 de maio de 2024

Jona Poeta - DOC Por Minha Causa (Divulgação) | Reprodução: ZAZ Conteúdo

“Wacomaia”, em Yawanawá, quer dizer “felicidade de estar em comunhão”. Essa foi uma palavra nova que entrou para o repertório do escritor, cantor e compositor Jona Poeta durante a passagem pela Aldeia Yawanawá Sete Estrelas, localizada no alto Rio Gregório, no Acre. Muito mais que essa palavra e seu real significado foram os ensinamentos que o artista teve acesso durante os cinco dias que passou junto à comunidade liderada pelo cacique Mew Yawanawá. Esta rica e vulnerável experiência de reencontro consigo mesmo poderá ser conferida no documentário independente “Por Minha Causa”, que chega ao YouTube à meia noite desta quarta-feira (22).

Depois de se doar completamente ao seu último trabalho, o álbum “As Canções Que Fiz Com Chico”, em homenagem ao Chico Buarque, em “Por Minha Causa”, o artista apresenta um projeto que foca em suas próprias vivências, experiências traumáticas, dores e superações. Inclusive, Jona lançou, recentemente, a canção “Recomeço”, bastante pertinente ao momento de vida pós vivência relatada no documentário.

Temas como abuso infantil e transtorno do espectro autista são abordados no material que mostra Jona em sua viagem pela Amazônia acreana, onde participa de rituais com ayahuasca e demais medicinas da floresta. “Foi uma experiência linda e muito desafiadora. Eu saí completamente da minha zona de conforto e da previsibilidade, que são tão importantes para o meu espectro humano. Há muita coisa bonita que vivi lá que eu não gravei porque estava focado na vivência e acabei esquecendo. Outras experiências são impossíveis de serem registradas, apenas sentidas”, afirma o artista que gravou sozinho todas as imagens e depoimentos do material. “Registrar a minha experiência foi uma forma de escalar essa ‘Wacomaia’, essa comunhão que vivi na comunidade”, completa.

Transformador

O que começou por conta de um final doloroso, ganhou força quando se apresentou como um material curativo, que poderia incentivar e sensibilizar outras pessoas. “Em um primeiro momento, pensei em criar algo que facilitasse o compartilhamento dessa história com a pessoa que, no documentário, chamo de ‘meu amor’, em um desejo de tentar nos reconectar, após um término. Depois pensei que só através do documentário eu conseguiria explicar aos meus amigos o processo transformador e absolutamente complexo que eu passei, pois envolve uma costura de momentos de uma infância traumática, seus reflexos na minha fase adulta e de acontecimentos recentes na minha vida, que possibilitaram entender detalhes da vivência na Amazônia”, conta.
Ao perceber a reação dos amigos ao assistir ao documentário, Jona percebeu que poderia torná-lo público. “Vi que era algo que eu gostaria de compartilhar com o mundo. Uma história de dor que eu silenciei de todas as formas possíveis, mas para a qual eu encontrei cura”, diz.

Coragem!

Foi neste processo que o artista, ainda que com receios, tomou coragem para compartilhar mais esse capítulo de sua história traduzido em arte, assim como costuma fazer em suas canções, clipes e escritos. “É preciso coragem para reconhecer as nossas próprias sombras e aprender com elas. Para ser sincero eu estou cheio de medo de falar sobre isso tudo, mas eu aprendi que não existe coragem sem a presença do medo, ela só existe naqueles que fazem as coisas apesar do medo de fazê-las. Eu tenho medo da repercussão, do preconceito e medo do ódio que a internet é capaz de arregimentar de forma massiva. Contudo, se alguém, ao ver, se encorajar para entender suas próprias sombras e dores e buscar se curar, o ato de publicar o documentário já terá valido a pena para mim”, finaliza.

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