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Capa digital | Alexys Agosto | Ed. 74

Redação CM

Redação CM

18 de junho de 2025

Neste Mês do Orgulho, a Conexão Magazine tem o prazer de apresentar Alexys Agosto como a nossa nova capa digital. Talentosa, autêntica e com uma história que ressoa, Alexys é muito mais do que uma cantora e compositora, é uma artista de verdade, que transforma suas vivências em arte que acolhe e inspira. Em entrevista, ela revela detalhes sobre o recente álbum “A Fabulosa Viagem de Futurística”, que se destaca como um verdadeiro hino de representatividade.

A artista compartilha que o trabalho nasceu de suas vivências como pessoa não binária, buscando criar uma conexão e oferecer acolhimento à comunidade LGBTQIAP+. O álbum aborda as dores e desafios enfrentados por corpos que escapam da cisnormatividade, oferecendo força e conforto aos ouvintes.

Ele traz reflexões sobre gênero e sentimentos que perpassam a nossa comunidade. É um projeto que fala de questões políticas e também de sentimentos muito íntimos. Para a artista, “A Fabulosa Viagem de Futurística” é uma vivência pessoal e ao mesmo tempo, muito coletiva.

Confira a entrevista exclusiva com a artista:

Alexys, o seu álbum ganha um novo olhar neste Mês do Orgulho, sendo um hino de representatividade. Como você espera que “A Fabulosa Viagem de Futurística” ressoe com a comunidade LGBTQIAP+ neste período tão importante?

Eu acho que por ser um álbum construído a partir das minhas vivências enquanto uma pessoa não binária, outras pessoas podem se identificar e se sentir menos sozinhas. Até porque é com esse público que eu quero me comunicar, eu acho que é pra as pessoas de gênero e identidades dissidentes que a minha música mais faz sentido. É um álbum que celebra a diversidade, mas também tenta lidar com a dor causada pelas violências que perpassam o nosso corpo enquanto pessoas fora de uma cisnormatividade. Então eu espero que as pessoas escutem e se sintam acolhidas, e que também dê forças para enfrentar os desafios que perpassam a nossa vivência.

O quão importante é este trabalho para você e sua carreira?

MUITO. Esse trabalho nasceu em um momento que eu precisava me reinventar enquanto artista, que eu precisava buscar um novo motivo para sonhar. E foi através desse álbum que eu comecei a estudar a ideia que eu podia ser uma cantora, compositora. Até então eu tinha uma formação voltada completamente para o teatro. Foi um ponto de virada radical na minha trajetória, e graças a esse trabalho agora eu vislumbro um caminho que eu quero seguir.

Você menciona que a solidão permeia toda a obra e foi uma tentativa de lidar com esse sentimento. Como essa “busca infinita em se sentir bem, mesmo estando sozinha” se transformou em vitalidade e dança nas músicas?

Eu acho que esse movimento em transformar a dor em dança foi um movimento de sobrevivência. Eu precisava expressar essa dor, e viver momentos bons comigo mesma. Então essa foi a forma que achei para conseguir conquistar isso. Expressar a minha dor através da arte e através do meu trabalho tentar me comunicar com pessoas que compartilham do mesmo sentimento que eu tenho.

O álbum é dividido em três atos, ligados às suas vivências trans. Poderia detalhar como o Ato II, “Saudade” pós-transição, aborda a complexidade de se sentir um corpo não desejado romanticamente, e como você encontrou a força para transformar essa dor em arte?

Essa força foi uma necessidade. Eu não tinha outra opção a não ser me fortalecer para lidar com isso. E quem me deu essa força foi a arte. Acho, inclusive, que é o movimento contrário. Eu não tinha força nenhuma, estava completamente esgotada, mas transformar essa dor em arte, expressar isso através das minhas composições, fez com que eu tivesse força pra lidar com isso na minha vida pessoal.

A personagem Futurística se sente um ET no planeta. Como você acredita que essa vivência pessoal se conecta com a experiência coletiva da comunidade trans e como a sua arte serve como um farol de visibilidade e empoderamento?

Eu acho que esse sentimento de solidão, de inadequação em um mundo que quer nos ver morta, que enxerga o nosso corpo como um produto de desejo mas não de amor, isso tudo é muito presente nas vivências de pessoas trans. Nem acho que eu seja pioneira em tratar dessas questões. Na verdade, é uma temática que observo muito em outros trabalhos de pessoas trans. A Linn da Quebrada, por exemplo, fala muito disso. “Eu tô bonita ou tô engraçada? Me arrumei tanto pra ser aplaudida, mas até agora só deram risada” é uma frase de uma música dela que sempre volta pra minha cabeça e é tipo um bordão entre as pessoas trans. E isso porque é uma realidade que a gente vive. Quando transicionei foi que eu entendi que o que é acontece é literalmente isso: as pessoas cis realmente vêem a gente como uma aberração. Então nesse projeto eu me aproprio disso pra transformar a visão minha em relação ao mundo. Eu sou um ET nesse planeta, mas eu sei amar, eu quero ser amada, me sentir desejada.

O processo de cinco anos do álbum incluiu a parceria com Helô Badu e a gravação na Rizoma Coletiva. Como essas colaborações foram essenciais para dar vida e expandir o alcance da sua narrativa?

Eu aprendi muito sobre fazer música com a Rizoma. O primeiro álbum que gravei foi o Caules, Brotos e Raízes, um álbum da Coletiva que me colocou em contato com diferentes expressões musicais e fez eu entender o poder que a coletividade tem na música. A minha parceria com a Helô é ainda mais antiga. Eu conheci ela na faculdade e tivemos diversas trocas nesse período. Quando apresentei o projeto A Fabulosa Viagem de Futurística pra ela, lá em 2020 durante a pandemia, ela se interessou muito em somar forças comigo e eu queria muito trabalhar com ela porque admirava muito ela enquanto musicista. Então foi um processo de troca mútua, de muito aprendizado, e esencial para gerar esse projeto da forma como ele é.

Você está prestes a iniciar a turnê “A Fabulosa Experiência de Futurística”. O que o público pode esperar dessas apresentações ao vivo e como você planeja continuar explorando e compartilhando sua jornada nos próximos projetos?

A gente já tem trabalhado nesse show há um tempo. Foi o meu TCC na graduação. Montei esse show com a Helô Badu e o Armr’Ore. Elus são essenciais pra esse projeto, juntes conseguimos transformar em cena a narrativa dessas músicas. É um espetáculo que mistura muitas linguagens artísticas, e que se propõe a ser uma experiência cênica mesmo. No sentido de propor uma vivência para o público em relação a presença de nós artistas no palco, mas também de experimentar uma linguagem cênica que nasce a partir da música. É um espetáculo que mistura poesia, performance, dança e música para construir uma atmosfera relacional entre a gente e o público. E sobre os próximos projetos, eu tenho muita coisa planejada. A Fabulosa Viagem de Futurística é na verdade o primeiro álbum de uma trilogia. Sou meio obcecada pelo número três, e já tenho encaminhado o que está por vir, mas por enquanto eu quero deixar o corpo da Futurística dançar por um tempo.

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