A atriz Carla Nunes, que estampa a nossa nova capa digital, estreou recentemente na novela das nove “Mania de Você”, da emissora Globo. A jovem dá vida à personagem Ritinha, no sucesso da televisão brasileira. A participação da artista desempenha um papel crucial em uma das reviravoltas da história.
Carla já possui uma trajetória consolidada na TV, tendo atuado como Mabel em Éramos Seis e participado de novelas e séries como Rock Story, Terra e Paixão, Shippados e Verdades Secretas 2.
Ela começou a atuar aos nove anos a partir de um projeto social do Grupo Nós do Morro, desde então acumula trabalhos no teatro, televisão, cinema, streaming e publicidade. Com mais de quinze peças teatrais no currículo, além de novelas, séries, longas-metragens, Carla Nunes também assume a função de diretora e roteirista em dois curtas-metragens, além de reunir prêmios e indicações no mercado teatral e audiovisual.
Formada como Atriz pelas Oficinas Culturais do Nós do Morro, a atriz cursa Bacharelado em Teatro na Faculdade Cesgranrio, estudou cinema no Encontrarte Audiovisual e possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
A atriz também é fundadora de um projeto social para crianças e adolescentes que oferece curso de teatro gratuitamente em Nova Iguaçu.
Para saber mais detalhes sobre a carreira e como foi dar vida à Ritinha em “Mania de Você”, confira uma entrevista exclusiva com a artista.
Como foram seus primeiros contatos com o teatro/atuação? Conta um pouco pra gente sobre esse início da sua carreira?
Comecei a fazer teatro aos nove anos, por meio de um projeto social do grupo ‘Nós do Morro’, dentro do programa Bairro Escola na minha escola. Desde então, não parei mais. Participei de algumas produções teatrais do grupo, festivais de teatro e projetos. Foi também nesse período que fiz meus primeiros contatos com o audiovisual, por meio de testes. Além disso, atuei como modelo por um tempo e fui eleita Miss Beleza Juvenil de Nova Iguaçu, Miss Beleza Mundial Juvenil, e outras nomeações. Durante esse intervalo, também trabalhei em áreas como jovem aprendiz, auxiliar de cartório, uma longa história. E me formei em Pedagogia pela UFRRJ. Com o tempo, comecei a receber muitos convites para testes de publicidade e fui me dedicando a essa área. Decidi investir mais no audiovisual e gravei um vídeo book. Fui até a Rede Globo fazer meu cadastro, que na época ainda era presencial, com preenchimento manual de formulários. Deixei meu DVD lá e, pouco tempo depois, fui convidada para fazer um vídeo cadastro interno com um produtor de elenco. A partir daí, as primeiras oportunidades de participação começaram a surgir, Rock Story, Shippados, etc. Pouco depois decidi ingressar na faculdade de teatro para construir uma base mais sólida e aprofundar minha formação. Fiz minha primeira novela, Éramos Seis, interpretando a personagem Mabel, e outros trabalhos no cinema. E com o tempo comecei a entender melhor meu lugar como artista que se auto produz, e passei a explorar novas possibilidades, como editais culturais, participando de produções de grupos da Baixada Fluminense, tanto no teatro quanto no cinema.
Sua carreira transita entre teatro, televisão, cinema e streaming. Tem alguma linguagem que você sente como “casa” ou gosta justamente de se reinventar nesses formatos?
Na verdade, atuar em qualquer uma das linguagens me deixa satisfeita, eu realmente amo exercer meu ofício. Mas, se tivesse que escolher, o teatro seria, sem dúvidas, a minha casa. Toda a minha formação e trajetória artística têm suas raízes nele. É onde me sinto mais conectada, onde aprendi e continuo aprendendo. E como atriz, transitar entre as linguagens é fundamental, e o audiovisual tem se tornado uma crescente descoberta. Venho me encontrando nesse universo, estudando e explorando novas possibilidades.
Além de atriz, você também dirige e roteiriza curtas-metragens. Como é estar por trás das câmeras e como isso influencia seu trabalho como atriz?
É instigante e muito bom. Estar por trás das câmeras me permite enxergar o audiovisual de uma forma mais ampla, compreendendo não apenas a atuação, mas também a construção da narrativa pelo olhar da direção e do roteiro. Essa experiência tem aprofundado minha percepção sobre cena, ritmo, demandas técnicas, influenciando diretamente meu trabalho como atriz e me tornando mais consciente do todo.
Carla, como vem sendo dar vida à Ritinha em “Mania de Você”? Você já acompanhava a novela antes de entrar no elenco?
Foi uma experiência muito especial. Todo o elenco e direção foram extremamente receptivos e generosos. Apesar de sua breve passagem, a personagem teve um impacto significativo na trama. Interpretá-la me permitiu explorar nuances interessantes, foi muito divertido. Eu acompanhava a história,conhecia o histórico conturbado de Robson, então fiquei feliz da Ritinha, de certa forma, ter conseguido sua “vingança” e revelado a verdade aos outros envolvidos.

A Ritinha, apesar de uma participação breve, é uma peça-chave para uma reviravolta importante da trama. Como foi preparar uma personagem que chega com tanto impacto logo de cara?
Gosto de entender claramente os objetivos da cena, e as indicações do roteiro. Também procuro decorar bem o texto, isso me permite viver a realidade da cena com mais verdade, ao mesmo tempo em que me mantenho aberta para possíveis improvisos no jogo com o parceiro de cena.
Como você enxerga as escolhas da Ritinha? Foi desafiador interpretar alguém que cruza a linha ética, mesmo que a princípio por ‘brincadeira’?
Então, a Ritinha foi ingênua ao confiar no Robson, alguém com quem teve um passado e que, para ela, ainda parecia ser uma pessoa confiável. Ela age com o coração, se deixando levar pelo reencontro e pelo encanto. Esse envolvimento emocional faz ela agir sem perceber de imediato as consequências. Foi importante entender essa dualidade, entre ingenuidade e responsabilidade, tornando a personagem mais humana e real.
Você começou a atuar aos nove anos em um projeto social e hoje retorna esse carinho fundando seu próprio projeto para crianças e adolescentes. Como essa vivência moldou sua trajetória e visão artística?
O projeto social foi um divisor de águas na minha vida, um grande encontro. Apesar de ter o desejo de atuar desde novinha, essa possibilidade não era acessível aos meus pais e até vista como uma realidade muito distante. Hoje, através desse projeto sinto que estou devolvendo um pouco do que recebi. Para mim, a arte é uma ferramenta de transformação. Acho que é isso que me move: a ideia de que podemos, através da arte, mudar realidades e instigar o pensamento crítico, criativo; ampliando o olhar da criança/adolescente.
Quais são seus próximos projetos? Podemos esperar novidades em breve, seja na TV, teatro ou cinema?
Sim. Em breve gravo alguns projetos pro cinema, além de lançamentos de alguns projetos que estão em pós produção, tanto como atriz, quanto como diretora. Também tenho agenda de apresentações no teatro nos próximos meses.
Na sua visão, qual o maior desafio hoje para os artistas que vêm da Baixada Fluminense e de projetos sociais como o seu?
É um processo constante de batalha para ser visto, ouvido e reconhecido. A arte baixadense é feita a partir de muita luta e resistência. Percebo uma falta de visibilidade e a dificuldade de acesso a recursos, principalmente em editais maiores. Embora tenha melhorado o acesso nesse sentido, percebo ainda uma escassez de oportunidades. É notável como artistas de outras regiões mais centrais recebem mais destaque e acesso a recursos.
Por fim, como você espera que o público receba a Ritinha? Que mensagem gostaria que ela deixasse na trama?
Ah, espero que o público se sinta, de certa forma, vingado pela ousadia da Ritinha ao enfrentar o Robson. Ela é alguém que toma a iniciativa, mesmo quando o caminho não é o mais ético. A mensagem que gostaria que ela deixasse na trama é que uma mentira ou um erro pode gerar muitas consequências, e por isso é sempre importante refletir antes de agir. E, se houver a chance de corrigir, que se tenha a coragem de fazer isso, assim como ela fez.