Conexão Magazine

Em entrevista, VALLADA fala do single “Alto Mar”, novo nome artístico e produção de seu primeiro álbum

Beatriz Arasanoli

Beatriz Arasanoli

20 de maio de 2025

VALLADA lança seu novo single "Alto Mar" primeiro do seu novo álbum / Créditos: @negromoon.jpg

Há anos circula entre os amantes da música popular brasileira uma pergunta que ainda instiga debates e inspira descobertas: afinal, o que é a “Nova MPB”? Para alguns, trata-se da chegada de jovens artistas que renovam o gênero ao incorporar elementos do pop, do rock, da bossa e de tantos outros estilos. Para outros, são músicos que, mesmo com uma sonoridade familiar, imprimem suas próprias marcas e refletem as inquietações da sociedade contemporânea.

Independentemente da definição, uma coisa é certa: o talento dessa nova geração é inegável. Mesmo diante dos inúmeros desafios da trajetória artística, especialmente na música independente surgem nomes que não apenas prometem, mas já entregam autenticidade, coragem e potência.

Entre esses artistas está VALLADA, que chega com os dois pés na porta e mergulha fundo em “Alto Mar”, seu novo single. A faixa lança um olhar crítico sobre a linha tênue entre o engajamento genuíno e o apelo superficial do mainstream, muitas vezes pautado apenas por fama e números. Mais do que um lançamento, “Alto Mar” marca uma virada de chave: é o nascimento artístico de VALLADA, que assume de vez o espaço antes ocupado por Arthur Valladão, seu nome de batismo.

Esse novo momento é celebrado também com o anúncio de seu primeiro álbum de estúdio, “Umami”, cuja proposta carrega um conceito curioso e saboroso. “‘Umami’ é o quinto gosto básico do paladar humano, aquele que traz uma sensação de preenchimento, de sabor intenso. É parecido com esse sentimento confuso do artista independente que ama fazer música, mas enfrenta inúmeras dificuldades”, explica VALLADA.

Natural de Niterói (RJ), o cantor iniciou sua trajetória autoral em 2019 e, desde então, vem conquistando público com uma sonoridade que transita entre o rock da cena undergound e o indie. Já são dois EPs e singles bem recebidos. Agora, mais maduro e ousado, VALLADA se permite escrever sem medo sobre as dores, os afetos e os dilemas de uma geração que sente tudo intensamente e que enfrenta as dificuldades de sua época.

Em entrevista exclusiva ao Conexão Magazine o artista contou um pouco sobre essa nova fase em sua carreira e o lançamento do single.

O novo single marca o início de uma nova fase da sua carreira. Como foi esse processo de mudança, tanto do nome quanto das perspectivas?

“O processo de mudança começa lá no final de 2023, logo depois do meu último lançamento como Arthur Valladão. Eu já vinha de um desgaste com a sonoridade, sensação de pouca identificação com o meu trabalho. Acho que o artista precisa ter orgulho e vontade de mostrar o que ele fez, o que ele tem, o próprio repertório, e eu cheguei nesse momento de me aprofundar no meu repertório, na minha imagem. O nome só sintetiza isso tudo, mas acho que era uma relação de precisar estar em uma nova pele para fazer aquilo que soube Arthur Valladão eu não tinha como fazer, sabe? O nome VALLADA me dá certa liberdade poética.”

“Alto Mar” fala sobre navegar por novos horizontes, deixar o raso para trás, acreditar nos próprios sonhos apesar das adversidades. O que você gostaria que o público absorvesse ouvindo a música?

“Eu queria que o público absorvesse essa ideia de que pra nascer o novo algumas coisas precisam morrer, sabe? Eu acho que eu tô falando também pra mim isso, porque eu sou um cara apegado às coisas, tenho dificuldade de deixar pra trás. Coisas, sentimentos, pessoas, sou um cara nostálgico e muito apegado. Então me transformar em VALLADA e mudar de sonoridade partiu de um desapego que eu não só quero transmitir pras pessoas, eu tô meio que justificando pra mim mesmo, sabe? Falando, que, você pode viver essa mudança, pode deixar morrer o que ficou no passado e fazer disso novos frutos.”

Veja a capa de “Alto Mar” e mergulhe nessa nova fase de VALLADA:

Capa de “Alto Mar” primeiro single da nova fase de VALLADA / Créditos: Divulgação / @negromonn.jpg

Por que você escolheu a Helena Peres para participar dessa canção? E como foi a experiência de trabalhar com ela nessa produção?

“Escolhi a Helena porque tava muito presente no processo do disco. Esse ano e ano passado a gente se encontrou algumas vezes pra compor, vai sair o próximo single que é uma composição minha com ela, e aí nessa ocasião de compor com ela mesmo eu mostrei “Alto Mar”, falei cara, “queria que você cantasse essa música comigo porque ela tem uma pegada R&B, um pouco de lo-fi e eu acho que cairia muito bem a tua voz aqui”, e aí de primeira ela não pegou direito a música e falou “toca de novo, vamos ver!” e aí, quando ela chegou fazendo as dobras a gente já sentiu que o negócio ia ser sinistro. Mas eu chamei ela pro estúdio sem nenhuma orientação, sem nenhum direcionamento. Foi meio tipo, “grava as partes que forem interessantes do verso, dobra o refrão comigo, que o negócio vai ficar maneiro” e assim, eu lembro que teve até uma hora que ela pediu pra gente sair do estúdio e falou, “pô, deixa eu aqui com o Jader” o Jader produziu a faixa, e tava gravando ela, e é quando ela se solta mais na música ali, do último refrão pro final, mas eu sempre tive certeza que era a Helena, isso aí num momento nenhum eu botei em questionamento.”

É possível notar uma maturidade maior na sua composição e produção. Por que essa faixa foi escolhida para inaugurar essa nova fase?

“Essa faixa foi escolhida pra inaugurar essa nova fase porque ela explica o caminho. Ela justifica a mudança de nome. Ela tem dentro de si esse sentido da transitoriedade das coisas. Traduz o que tá acontecendo agora. Então acho que era a faixa que fazia mais sentido pro propósito que eu ia estar vivendo nessa mudança de nome e nessa volta aos lançamentos.”

Ouça a faixa aqui embaixo:

O título do disco, “Umami”, remete ao “quinto sabor” do paladar humano, algo difícil de definir, mas marcante. Como essa ideia se conecta com a sua nova sonoridade e o que podemos esperar das próximas músicas do disco?

“A ideia de humano se conecta com a nova sonoridade, principalmente porque eu tô trazendo groove. Eu tô trazendo uma preocupação com ritmo que eu acho que eu não tinha antes no meu trabalho. O Arthur Valladão era um artista que compunha baseado em ritmos de bossa, então a rítmica das músicas ficava em torno disso. E hoje eu tô trabalhando com harmonias mais simples e pensando mais a questão rítmica, pra trazer groove, pra preencher a boca. Desse sabor que não tava presente antes.”

O disco “Umami” tem sua previsão de lançamento no segundo semestre deste ano. Até lá, outras faixas serão lançadas como singles individuais.

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

ÚLTIMAS NOTÍCIAS