Em uma apresentação digna de um grande astro que ele é, o cantor, compositor e instrumentista Delacruz encantou o público e lotou o Circo Voador na última sexta-feira (21). Foi a segunda noite esgotada da turnê Vinho no icônico palco carioca, reafirmando sua força no cenário musical. O show acontece poucos meses após o lançamento de seu segundo álbum de estúdio, “Vinho” (2024), que chegou em outubro trazendo sete faixas, entre elas o sucesso “Afrodite”, parceria com Iza. Para celebrar essa fase especial da carreira, estivemos presentes no evento, e Delacruz conversou com o Conexão Magazine sobre as referências e inspirações por trás do projeto.
Com aproximadamente 1h30 de duração, o show teve um tom apoteótico, levando o Circo Voador ao delírio. O coro dos fãs, em muitos momentos, superava o som da própria banda, evidenciando a conexão intensa entre o artista e o seu público fiel de anos. Delacruz, sempre acompanhado de sua taça de vinho, conduziu uma verdadeira catarse coletiva. Suas novas faixas, como “Para de falar tanta besteira” e “Se quiser voltar”, foram recebidas com entusiasmo, assim como seus maiores sucessos: “Anestesia”, “Aladdin”, “Sunshine”, “Onde Estará”, “Vício de Amor” e “Cigana”.
Ao seu lado, uma banda completa — composta por um baterista, guitarrista, baixista, tecladista e backing vocals — garantiu a potência sonora da noite. Além disso, dois bailarinos adicionaram ainda mais energia ao espetáculo. O visual da turnê segue uma estética acolhedora, misturando tons terrosos e vinho. O palco foi ambientado com plantas, um sofá e abajures, criando uma atmosfera intimista, reforçada também pelos figurinos que harmonizaram os artistas.
A noite contou com a participação especial de seu parceiro de trabalho de longa data Lukinhas, que subiu ao palco para apresentar “Último Romântico”, parceria presente no álbum “Vinho”. Juntos, também cantaram “Aperta o Start”, sucesso produzido por JOK3R nome frequente nas produções de Delacruz. Entre as surpresas do show, um momento emocionante roubou a cena: o cantor chamou sua mãe ao palco e, em meio a sorrisos, arriscou alguns passos de dança ao lado dela, arrancando aplausos do público.
A família do artista também marcou presença de forma especial. Em um gesto de reconhecimento, sua equipe entrou no palco para presenteá-lo com dois quadros comemorativos: um pelos 65 milhões de streams de “Aperta o Start” e outro pelos 30 milhões de “Afrodite”, sua parceria com Iza.
Visivelmente emocionado, Delacruz agradeceu a todos os envolvidos no projeto, incluindo seus produtores, banda, equipe e, especialmente, sua esposa, que o apoia mesmo à distância. Ele também dedicou um agradecimento ao público, que o acompanha fielmente nessa jornada. Uma noite memorável, digna de um artista que promete entregar muito ainda. Em conversa com o Conexão Magazine, o cantor conta sobre o processo e inspirações de “Vinho”.
“Para de Falar” faz referência a um clássico do Exaltasamba no refrão. O pagode e o grupo estão entre suas influências musicais?
Não há dúvida de que essa música “Para de falar tanta besteira” foi inspiração da música “Para de falar”, a gente usa ali uma célula do refrão que é a parte principal. Foi uma ideia brincando que eu tive com Gaab no estúdio, ele é filho de um dos compositores da música e ela ficou eternizada também na voz do Rodriguinho. Então tinha tudo a ver a gente fazia essa brincadeira porque era uma música que o Gaab já cantava e é muito óbvio que o Rodriguinho, o Exaltasamba, Péricles e Thiaguinho foram influências porque eu cresci ouvindo eles, então certamente esses caras me influenciaram musicalmente e influenciam até hoje.
Em Último Romântico, parceria com Lukinhas, você homenageia MC Marcinho e brinca com a ideia do amor nos tempos atuais. Como enxerga a importância de falar sobre romance no rap e no R&B, gêneros que ainda carregam letras com teor machista em alguns casos?
O Marcinho ele é a minha maior referência musicalmente falando, liricamente falando e sempre foi assim né, eu acho que ele quebrava um paradigma e eu cresci com essa ideia, e eu eu ouvia os meus pais, tios e avós reclamando do lugar para onde o funk tava indo e havia sempre aquela concepção de que “o funk na minha época se exaltava as mulheres, fazia música romântica” e não que seja um problema o funk ter outros subgêneros, ter o gênero ostentação, e proibidão, acho que a música é um campo livre e a gente fala muito sobre liberdade de expressão e a minha liberdade de expressão é falar sobre o que eu gosto de falar, sobre amor. Óbvio que dentro da liberdade de expressão existem vários limites do bom senso que o ser humano precisa seguir. Eu procuro me manter são, me orientar, mostrar minhas músicas para pessoas de confiança, produtores, para não cometer uma falha grave porque somos todos humanos e a gente precisa se policiar. Mas eu gosto mesmo de falar de amor, falando de mim eu tenho o Marcinho como inspiração até hoje e pretendo seguir dessa forma.
O projeto visual do álbum se destaca, com clipes gravados em um cenário repleto de plantas e looks em tons terrosos, transmitindo a atmosfera de uma noite envolvente com vinho e romance. Como foi o processo de criação desse cenário e como tem sido levá-lo para os shows?
Trata de ter uma coisa que converse com a musicalidade que está sendo apresentada, o cenário e a escolha dele é pensada e ele reproduz o que a gente fez no audiovisual do álbum, então é uma escolha pensada de criar esse ambiente, criar o clima e vender além da música uma experiência visual também. Imagino que as pessoas que estão ali no público olham para o palco, veem aquele clima ali e gostariam de estar em um local assim ouvindo aquele tipo de música, então é essa a nossa intenção. Foi pensado por várias pessoas, mas quero dar os créditos à Carol Agyar que é a responsável por montar esse cenário desde o clipe, até o cenário de show, então deixo aqui um beijão para Carol, o Phil (Philippe Rios, diretor geral dos clipes de “Vinho”), também que era o nosso diretor do audiovisual, obrigado por terem criado esse clima e toda a nossa equipe, todo mundo, eu, produtores, figurinistas, Rayza (se referindo a figurinista Rahiza Santos), quero deixar os parabéns para essa galera que tirou onda demais.